A edição em português do novo livro para adultos da nossa tão querida autora de Harry Potter chegou esse mês ao Brasil. Eu, como uma fã não tão fluente no inglês comprei na pré-venda e esperei ansiosamente por ele, e devorei as 500 páginas em uma semana. Não sabia muito o que esperar, e ainda não sei bem se amo ou detesto a história, mas meu respeito pela J.K. como escritora só aumentou.
A trama parece simples: Barry Fairbrother, membro do Conselho Distrital da pequena cidade de Pagford, tem uma morte repentina, vítima de um aneurisma. Ele era protagonista de uma disputa política acirrada no Conselho, e lutava pelo bairro carente onde nasceu, Fields, motivo de discórdia entre Pagford e o povoado vizinho. J.K. narra a rotina dos habitantes da cidade e como a sua morte afeta a todos em suas vidas públicas e privadas.
De início é até chato. Você pensa: é só isso? Nenhum assassino misterioso? Nenhum romance ou conflito principal que faz você roer as unhas, chorar, se descabelar? Só nos restam as vidas chatas e comuns dos habitantes de Pagford. Um adolescente cheio de espinhas, apaixonado pela novata da escola. O chefe do Conselho e dono da delicatessen. Sua sócia, a beata fofoqueira. A médica que vai defender o lado de Barry no Conselho. A adolescente problemática de Fields e protegida de Barry, a mãe viciada, o irmão menor. O personagem principal está morto, mas sempre presente justamente por causa de sua ausência.
É justamente isso que acaba prendendo a nossa atenção. J.K. constrói tão bem as personagens que ao fim do leitura é como se fossem íntimos do leitor, que acaba se vendo ligado a eles, seja por empatia ou aversão. Da aparência até os pensamentos mais profundos, aquelas pessoas são despidas aos nossos olhos, e no decorrer da história, aos olhos uns dos outros.
Chega a ser irritante, pra falar a verdade, como ela descreve tudo e todos detalhe por detalhe, mas no fim não tem como ler sem se envolver, sem tomar partido, ficar com raiva, pena ou achar graça dos dramas pessoais. O nome em inglês A Casual Vacancy se refere à vaga de Barry no Conselho, que virou motivo de disputa. Mas eu acho a tradução para a nossa língua muito melhor. Mortes súbitas acontecem no livro de várias maneiras e em momentos
diferentes.
Uma coisa engraçada é o fato de o livro não ter como alvo um público tão jovem, mas as personagens pivôs serem adolescentes. Apesar de tratar de alguns assuntos de gente grande, como política, violência doméstica, drogas, estupro, etc., J.K. dá aos adolescentes o mesmo poder, ou mais do que os adultos. Mesmo o irmãozinho de Krystal (a “menina problema” de Fields) viu e experimentou mais do que um menino comum da sua idade. São os jovens que indicam o rumo da história, são as suas reações aos movimentos dos adultos que mudam seus destinos.
A leitura é densa, mas fácil, e cheia de referências ao mundo dos jovens, de facebook à Rihanna. O senso de humor da J.K. é de matar, com um timing perfeito e cheio de ironias. O final é dramático, mas monótono como o resto da trama, sem nenhuma conclusão romântica. As máscaras das pessoas caem, mas não há vingança, nenhuma sensação de justiça poética, ninguém é feliz para sempre. Nada de bem vencendo o mal. As pessoas simplesmente continuam suas vidas, alteradas ou não pelo que passaram, exatamente como fazemos no mundo real. A mágica dessa vez está na maneira como J.K. tece a vida de todas aquelas pessoas de um jeito que envolve quem está lendo até que este não tenha mais saída. Amando ou odiando, impossível não ler até o final.
2 comentários:
E que você se sinta a vontade em sempre contribuir com o blog =]
:) Amém! ahaha brigada Ju!
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