sexta-feira, 20 de maio de 2016

Entrevistando: Sweeney Todd - montagem da CAL


Fomos conferir a montagem da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) da peça "Sweeney Todd". Já conhecíamos o musical e a expectativa estava nas alturas. Aprovamos a montagem, está excelente: tanto a forma como a história é contada quanto as músicas. Entrevistamos o elenco da peça sobre a montagem e outras questões a respeito dos musicais no Brasil.

A ideia de fazer a montagem de "Sweeney Todd" foi da escola de teatro CAL ou partiu dos próprios alunos?
Vitor Louzada (assistente de direção, interpreta o Tobias): A ideia de fazer "Sweeney Todd", assim como todas as outras montagens do curso Mergulho no Musical, parte dos professores do próprio curso. O diretor Menelick de Carvalho e a supervisora geral Mirna Rubim analisam os alunos e decidem qual pode ser a melhor peça para o material humano que se tem. A montagem do musical é o terceiro módulo do curso Mergulho no Musical e somente os alunos que já passaram pelos cursos Livre e Avançado podem fazer a audição pra fazer a peça.

O que foi levado em conta no processo de fazer as versões das músicas? Como foi o processo de tradução e adaptação das letras?
Vitor Louzada: Versionar uma música, especialmente de teatro musical é um processo muito difícil e complicado, uma vez que no musical a música nada mais é do que texto, diálogo entre os personagens. Então tudo o que é dito é extremamente importante. Na hora de trazer para o português precisa se ater ao máximo ao sentido da peça, para se contar de fato aquela história. Além disso deve se preocupar com métrica (o número de sílabas e notas da música original), prosódia (as sílabas tônicas das palavras em português), a poesia da música (todas as figuras de linguagem como aliterações, jogos de palavras e metáforas) e logicamente as rimas. Se tratando de um musical de Stephen Sondheim isso se torna mais complicado porque ele é famoso por suas letras rápidas com muitos jogos de palavra e muitas rimas. As versões foram divididas entre Menelick de Carvalho o diretor da peça e eu.



Quais foram as inspirações para a montagem e composição dos personagens: as peças de teatro ou também foi levado em conta o filme dirigido por Tim Burton?

Natália Seiblitz (interpreta a Dona Lovett): O processo de criação de personagens foi feito após uma pesquisa dividida entre o elenco, que se transformou em um ciclo de seminários para todos, sobre: o período histórico da peça, as penny dreadfuls (publicação na qual surgiu a estória de Sweeney Todd), os “monstros vitorianos” (Jackie o Estripador, Frankenstein, Vampiros...), as peças de teatro e filmes produzidos sobre Sweeney Todd e o tema bastante polêmico presente na peça, canibalismo. Quando começamos o processo já havíamos passado por essa semana de imersão no universo da estória, que é extremamente rico e diverso. Então nos alimentamos e digerimos tudo o que encontramos sobre o assunto. É claro que as peças anteriores e filmes (incluindo o do Tim Burton) nos deram bastante material para construção dos personagens, mas creio que foi uma mistura de todo esse conhecimento e o mergulho nesse universo que proporcionou mais riqueza na criação dos personagens. Eu, particularmente, gosto de me apropriar de um universo e não de apenas uma obra para a criação do personagem. Pesquisei muitas imagens da época em que se passa a história, encontrei diversas possíveis “Dona Lovett”, os filmes também apresentam variáveis da personagem. Porém, há elementos na figura dessa mulher que estão presentes na maioria das adaptações que existem. Ela é uma mulher extremamente solitária (aliás, a solidão é um elemento muito forte nessa estória), carente (nunca foi verdadeiramente amada), tem um forte lado materno que nunca pode realizar, já sofreu muito na vida (como a grande maioria da classe trabalhadora da Londres Vitoriana) e cada dia para ela é uma batalha, que ela enfrenta sem medo, é matar ou morrer. Além disso, é uma mulher simples e prática, busca soluções para sobreviver dentro desse mundo. Há também constantemente a ligação dela com a imagem de “bruxa” na peça inteira, e o fato de ela morrer queimada com certeza não é por acaso, essa ligação nos faz pensar e refletir sobre os pontos de vista de cada um. Afinal, seria ela vilã ou apenas uma pessoa que por amar demais (sem retorno) e tentar sobreviver em um “mundo cão” acabou não medindo esforços e nem moralidades para tentar ser feliz.

Vocês acham que o público brasileiro de musicais ainda é muito restrito? 
Natália Seiblitz: Já avançamos bastante com relação a isso, mas com certeza ainda é bastante restrito. A maioria do público ainda é de "amantes de musicais" ou praticantes. Há sim um grande crescimento do interesse do público em geral por peças musicais, acredito que devido à propagação de peças musicais que vêm acontecendo durante os últimos anos. Mas ainda existe muito preconceito por parte da própria classe artística, de acharem que musical é "só um enlatado americano sem conteúdo artístico". Com certeza existem alguns que realmente são, mas, felizmente, quanto mais o teatro musical vem conquistando espaço, mais pesquisa e aprimoramento do estilo vão acontecendo e com isso a qualidade e a valorização da peça de teatro musical ganha um novo patamar. Espero que nos próximos anos essas barreiras de preconceito possam ser quebradas, afinal de contas, teatro é teatro, e se a música ou a dança podem ser elementos que agregam valor à história a ser contada, por que não usá-las?

Existe alguma previsão para a próxima montagem?
Vitor Louzada: No calendário do curso Mergulho no Musical geralmente a montagem acontece logo no início do ano, tendo audições em janeiro e ensaiando 4 meses para estrear em abril. Qualquer aluno que já tenha passado por um Mergulho no musical livre e um Mergulho no musical avançado pode se inscrever. Novas turmas livres intensivas (1 semana) abrem em todo período de férias. E a cada início de semestre abrem a turma livre de semestre (4 meses) e a turma avançada.

Se você gosta de musical, de suspense, romance, intrigas, não deixe de conferir a montagem da CAL. É só até esse final de semana, com mais 4 apresentações. E é de graça!

CAL - R. Rumânia, 44, Laranjeiras
Sábado e domingo, sessões às 16h e às 20h (as senhas serão distribuídas 1h antes).

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