sexta-feira, 15 de março de 2013

Cena Livre: Argo


Se existisse uma lista negra com os temas mais tabus do cinema hollywoodiano, não há dúvida que os conflitos no Oriente Médio e tramas baseadas em episódios reais da CIA e do FBI encabeçariam o ranking com folga. O motivo para isso é simples: no primeiro caso, o risco de uma produção escorregar na xenofobia é sempre alto (como foi o caso de Falcão Negro em Perigo, de Riddley Scott); enquanto no segundo, o fato da história ter realmente acontecido dá  margem para se questionar a veracidade de algumas passagens, já que, no fim das contas, um filme é uma obra de ficção. Agora imagine um longa que misture esses dois assuntos controversos a uma trama envolvendo um filme de ficção científica falso? Este é o plot de Argo, filme do ator e diretor Ben Affleck, que ganhou recentemente o Oscar de Melhor Filme deste ano.

Baseado no livro de memórias do ex-investigador da CIA Tony Mendez, Argo narra a história de um grupo de diplomatas americanos que, após a explosão da Revolução do Irã em 1979, se tornam alvo de perseguições políticas e são, portanto, proibidos de abandonar o território iraniano. Refugiados na casa do embaixador do Canadá, o grupo se encontra em uma situação crítica: como sair do país quando o cerco das autoridades iranianas a eles não para de aumentar?

A solução para este dilema vem de Tony, interpretado pelo próprio Ben Affleck. O agente, ao lado de um roteirista e um maquiador de Hollywood, inventa um filme de ficção científica chamado Argo, que terá como locação o Irã. O longa, na verdade, é uma fachada para Tony se infiltrar no país e resgatar os refugiados. Mas para que o plano funcione, os cinco diplomatas terão que se passar por uma equipe de cinema canadense, usando disfarces e passaportes falsos.

O que mais impressiona na trama de Argo é o fato de sua história cinematográfica ter realmente acontecido, o que, por si só, já torna o filme interessante. E é nesse ponto em especial que Affleck acerta com sua direção: ao invés de focar no lado politizado da trama, envolvendo a Revolução do Irã, o diretor investe neste aspecto mais lúdico e absurdo da história (a criação de um filme falso). As partes em que Tony bola ideias para a produção da suposta ficção científica estão entre as melhores do filme, principalmente quando o agente, já no Irã, treina os diplomatas para interpretarem seus devidos papeis.

A direção segura de Affleck não é o único ponto positivo de Argo. O elenco, encabeçado pelo próprio diretor, é outro show à parte. John Goodman e Alan Arkin estão geniais como o maquiador John Chambers e o produtor Lester Siegel, respectivamente. A dupla, aliás, protagoniza alguns dos momentos mais cômicos do filme, como o falso coquetel de divulgação da ficção científica em um hotel. Tate Donovan, Clea Duvall, Scoot McNairy, Christopher Denham e Kerry Bishé completam o elenco como os diplomatas refugiados. Apesar de não aparecerem tanto quanto Arkin, Goodman e Affleck, os verdadeiros protagonistas, os cinco têm seus minutos de brilho, sobretudo McNairy, que rouba a cena em uma situação particularmente tensa no terceiro ato. Até mesmo Ben, que não costuma ser elogiado por suas atuações, se sai razoavelmente bem como Tony Mendez.

Inteligente, tenso e divertido, Argo se revelou uma grata surpresa em meio a uma temporada de prêmios recheada de filmes políticos pesados e complexos, como A Hora Mais Escura e Lincoln. É uma ótima alternativa para quem só quer curtir uma boa história.

2 comentários:

Jennifer disse... [Reply to comment]

Filme excelente mas não merecedor de Oscar de melhor filme!!

Feliciity disse... [Reply to comment]

Sou apaixonada pelo Ben Affleck!S2
Todos os filmes que vi dele são ótimos, mas esse ainda não vi...
Boa recomendação!

http://feliciity-unjourdepluie.blogspot.com.br/